Estiveram na ordem do dia os comentários de Martin Schultz sobre a visita de Passos Coelho a Angola, interpretados, em Portugal, como uma crítica ao nosso país.
Não quero, no entanto, centrar-me nem na validade e pertinência dos comentários, nem na legitimidade de quem os proferiu. Devo apenas referir, para que se torne bem perceptível o que direi de seguida, que não achei os comentários nem ofensivos nem desadequados, e que não os encaro como uma ingerência nos assuntos nacionais. Aliás, os comentários foram feitos dando Portugal como um exemplo para um problema Europeu.
Mas o que me parece, sinceramente, é que tudo isso é algo de somenos importância, quando olhado de um ponto de vista mais global, a nível de uma União Europeia.
O eco não demorou a fazer-se ouvir em Portugal, com vários políticos – de todos os quadrantes políticos – e comentadores a manifestarem-se, uns de forma mais violenta que outros, contra Schultz. Mesmo embora este alinhamento de várias sensibilidades políticas em torno da defesa de Portugal – que lhes parecia estar a ser ameaçado por um responsável europeu – até possa colher a simpatia e até comover o cidadão comum, para mim é sintoma de algo que me preocupa. Falo do ambiente de desunião que se vive actualmente na Europa e do ambiente crispado em que nós, europeus, vivemos.
Não é novidade que os países europeus se têm mostrado pouco solidários, pouco tolerantes, pouco unidos entre si. Mas o que me preocupa é o futuro. Alguém espera que a relação entre os países europeus volte a ser a mesma? Alguém espera que volte a existir (nalguns casos, será que alguma vez existiu?) um sentimento de fraternidade entre povos europeus? Alguém espera que um grego volte a olhar para um alemão como um irmão, depois de a Alemanha ameaçar e oprimir a Grécia da forma que tem feito? Alguém acredita que um inglês olhará do mesmo modo para a União Europeia, para a Alemanha ou para a França, depois de os chefes de Estado destes dois países terem dado a entender ao Primeiro-Ministro Britânico que a Europa não precisa do Reino Unido para nada?
Mesmo que o Euro sobreviva, mesmo que a União Europeia não perca membros, mesmo que a crise económica seja resolvida brevemente e se possa retomar o caminho do desenvolvimento económico e social, alguém acredita num futuro com uma Europa forte e coesa? Há feridas que estão a ser (re)abertas e que demorarão muito tempo a sarar.