Então os sacrifícios de todos os portugueses ao longo de um ano servem para quê?
Simples. Aquilo pelo que o nosso país está a passar não é mais do que uma embirração ideológica mascarada de consolidação orçamental, testada cá para exportar para outras latitudes. Digam o que disserem.
Estou revoltado,
Comigo,
Por não mais me revoltar.
E isso revolta-me.
Nos idos,
Um Orçamento de Estado,
Como o ontem apresentado,
Ter-me-ia feito levantar.
Hoje não, é esperado,
E o não ficar espantado
É que me coloca neste estado,
Revoltado por não me revoltar.
E isso revolta-me.
Mesmo.
Hoje,
Com isso devem eles também contar,
Com esta paz que resulta do resignar,
Da expectativa que não vingaram gorar.
E assim, lá seguem a mandar,
Num sentido que imaginam sem vislumbrar,
Enquanto o povo continua a penar.
A solução é mais austeridade? A solução para quê, afinal?
E esperam que as pessoas – as pessoas nas filas da Segurança Social ou das Misericórdias, ou as pessoas que perdem as suas casas -, aceitem esta «solução», sem ver quaisquer resultados e sem a compreender?
Os portugueses estão dispostos a fazer sacrifícios – sempre estiveram -, mas esperam resultados. E não é da continuidade da austeridade que os portugueses falam. Notícias como esta contribuem para a criação de um espírito de indignação sem memória no nosso país.
Don’t you know
They’re talkin’ bout a revolution
It sounds like a whisper
Don’t you know
They’re talkin’ about a revolution
It sounds like a whisper
While they’re standing in the welfare lines
Crying at the doorsteps of those armies of salvation
Wasting time in the unemployment lines
Sitting around waiting for a promotion
Don’t you know
They’re talkin’ bout a revolution
It sounds like a whisper
Poor people gonna rise up
And get their share
Poor people gonna rise up
And take what’s theirs
Don’t you know
You better run, run, run, run, run,
run, run, run, run, run, run, run
Oh I said you better
Run, run, run, run, run, run, run,
run, run, run, run, run
Finally the tables are starting to turn
Talkin’ bout a revolution
Finally the tables are starting to turn
Talkin’ bout a revolution
Talkin’ bout a revolution
While they`re standing in the welfare lines
Crying at the doorsteps of those armies of salvation
Wasting time in the unemployment lines
Sitting around waiting for a promotion
Don’t you know
They’re talkin’ bout a revolution
It sounds like a whisper
Finally the tables are starting to turn
Talkin’ bout a revolution
Finally the tables are starting to turn
Talkin’ bout a revolution
Talkin’ bout a revolution
Talkin’ bout a revolution
A população saiu hoje à rua e deu um sinal de que já se esgotou a paciência para aguentar a austeridade que nos tem sido imposta.
Vários milhares de manifestantes, alguns dos quais até recentemente seriam capazes de criticar quem se manifestava e lutava também por eles, fizeram saber alto e bom som que estão fartos do caminho que tem sido seguido.
Hoje gritou-se basta! Amanhã dever-se-ia meter as mãos à obra!
Seria bom que os manifestantes de hoje integrassem amanhã a mudança no país. Entre partidos, movimentos cívicos e associações, há muito por onde ajudar a mudar o actual estado das coisas. Dia 5 de Outubro debatem-se em Lisboa, no Congresso Democrático das Alternativas, ideias para o país. Também aí há uma excelente oportunidade para participar.
Vamos lá Portugal!
Pois é, parece que a Standard & Poor’s resolveu baixar o rating de vários países europeus, incluindo Portugal, colocando-nos ao nível de lixo. Qual a justificação da agência?
O que quer isto tudo dizer? Em poucas palavras, que as decisões tomadas pelos países e órgãos governativos europeus não são suficientes para resolver o problema da crise soberana e que o remédio aplicado poderá ser desadequado, quer por um diagnóstico errado da doença, quer por o paciente poder vir a morrer da cura.
– «Humm… we decreased his salary an extra 50%… we took away his pension… and he is still working…»
– «Incredible! And he doesn’t complain?»
– «Of course not! You see, there is a “Crisis”…»
– «The man of the future has a name: The Greek!»
Confesso já ter sentido que parecemos – portugueses, gregos, irlandeses, espanhóis, franceses, europeus em geral – estar no centro de uma experiência económico-financeira sem precedentes.
Há poucos dias era João Ferreira do Amaral quem afirmava que «a prioridade do governo não é cortar o défice, [mas sim] cortar salários» e que:
«Está a ser aplicada uma fórmula para ganhar competitividade que passa por gerar desemprego, aumentar o horário de trabalho e flexibilizar a legislação, conseguindo assim baixar o nível geral dos salários. É um modelo que sempre foi discutido, mas nunca foi aplicado com esta dureza.»
Durante muito tempo orgulhámo-nos de sermos o bom aluno da Europa. Hoje, tendo a intervenção na Grécia falhado – como já deram conta vários responsáveis políticos europeus – e estando muito próxima uma decisão de perdão da dívida grega, olha-se para Portugal como a possibilidade de um caso de sucesso desta política de austeridade. Não importa quantas pessoas são arrastadas para uma espiral de desemprego, pobreza e desespero; o importante é colocar em prática as crenças neoliberais que muitos defendem, mas que poucos efeitos práticos (positivos) têm tido. Aliás, espera-se que Portugal e Irlanda sejam os dois primeiros casos de sucesso.
«Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia. Em prol de quê? – Em prol de uma fé. E a troco de quê? – A troco de uma mão cheia de nada.»
Lá, no Chile, não deu grande resultado.
Então o que está por base nesta política económica?
O Memorando de Entendimento com a Troika incluía a tão falada redução da TSU. Afinal, segundo palavras do Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, essa descida funciona bem, mas é nos «modelos utilizados nas universidades». Optou-se, assim, por um aumento da carga horária dos trabalhadores que carece, também ele, de grande fundamento prático. O objectivo continua o mesmo: apostar na teoria da desvalorização do custo do trabalho como forma de revitalizar a economia. Mais uma vez, estamos a falar de teorias económicas não comprovadas em termos práticos.
Disso são um bom exemplo os E.U.A., onde esta política de diminuição dos custos do trabalho se tem feito à custa dos salários, que se mantêm praticamente congelados desde a década de 1980. Embora não se possa afirmar que tal não tenha tido efeitos práticos na economia – porque se a macroeconomia dependesse apenas de um factor, não seria o «bicho-de-sete-cabeças» que ninguém parece entender – pode-se garantir que, seguramente, não contribuiu para o bem-estar da população – como é possível confirmar pelo Coeficiente de Gini, que mede a disparidade de riqueza num país.
Em Portugal aguarda-se um desfecho parecido. Em vez de tecer considerações sobre isto, sugiro a leitura de um artigo do Público de ontem e faço minhas as palavras do autor:
«Em 2009, os chamados working poor perfaziam 12% dos 1,8 milhões de portugueses em risco de pobreza. (…) Em 2010, ninguém sabe quantos eram. Quantos serão em 2012? Nenhum dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO arrisca uma previsão, mas todos convergem numa certeza: a pobreza vai agudizar-se nos próximos meses e anos, muito além da sua definição estatística, principalmente à custa dos desempregados de longa duração e das famílias trabalhadoras pobres.
A estas o mais certo é juntarem-se agora os cerca de 2,5 milhões de trabalhadores cujos salários andam entre os 700 e os 800 euros.
(…)
Temos então que as famílias vão recuar “20 ou 30 anos” em termos de rendimentos.
(…)
O Governo poupou estes working poor a boa parte das medidas de austeridade. Mas, como lembra Sérgio Aires, da Rede Europeia Antipobreza, isto não faz com que consigam fugir ao aumento do custo de vida. “Não lhes é possível chegar a um supermercado e apresentar a declaração de IRS para obter desconto no arroz.”»
Tudo isto valerá a pena?
Cada vez mais me convenço que não; que há medidas que estão muito mal fundamentadas e justificadas por razões de difícil compreensão – como «desvios colossais» que ainda não foram devidamente demonstrados – e que há fortes orientações ideológicas por trás de tudo isto.
Independentemente de quem a conduz – Governo Português, União Europeia, FMI, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, Moodys, JP Morgan Chase, ou qualquer outra entidade –, cada vez mais sinto que, neste momento, fazemos parte de uma experiência socioeconómica sem precedentes; somos pouco mais que cobaias de laboratório.
Pretende-se que este blogue se apresente como um local de discussão de ideias, de pontos de vista, de opiniões, de projectos e de tudo o que possa ser interessante no contexto da sociedade moderna.
Assim, cobriremos temas como política, ciência, tecnologia, educação, economia, gestão, empreendedorismo e outros que tenham relevância suficiente para serem discutidos.