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E o ignorante sou eu?!

Que a medida é extremamente inteligente, acho que é. Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas.
(António Borges, 2012/09/29)

Já aqui tinha dito, a propósito desta questão das alterações à TSU, que [a] resposta dada pelo Governo às reservas manifestadas pelos empresários é a de quem se acha dono da verdade absoluta, e de quem acredita que os outros não sabem o que dizem. Antes haviam sido Carlos Moedas e o próprio Pedro Passos Coelho; agora foi o pseudo-ministro António Borges – aquele que foi despedido do FMI por incompetência, mas que agora gere, em Portugal, a galinha dos ovos de ouro daqueles que verdadeiramente estão dependentes do Estado – as privatizações.

Continuam convencidos de que só eles têm razão e de que todos os outros estão errados; os empresários, os trabalhadores, os comerciantes, os economistas, os investigadores, as ruas, outros políticos (incluindo muitos do seu próprio partido e do seu parceiro de coligação) e até os insuspeitos Wall Street Journal ou o American Entreprise Institute não sabem do que falam. Tais sinais de autismo são muito graves numa sociedade democrática e demonstram que somos conduzidos por lunáticos que, ao invés de pararem um pouco para reflectir no rumo a seguir, aceleram a fundo em direcção ao abismo.

PS: Não sei qual é o curso em que o sr. António Borges lecciona; mas na minha humilde opinião, insinuar que os alunos do seu curso ou pensam como ele ou chumbam, não será grande publicidade para o curso ou para a universidade que o acolhe.

 
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Publicado por em 30 de Setembro de 2012 em economia, política

 

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TSU, emprego, sociedade e… realidade

Um estudo de professores da Universidade do Minho refuta a ideia do Governo de que as alterações à TSU evitarão um crescimento do desemprego. Pedro Passos Coelho afirmou que, caso não fosse adoptada esta medida, “Portugal arriscava ter para o ano quase 17% de desemprego. O referido estudo aponta “para uma quebra no emprego e um aumento do desemprego de longa duração decorrentes de um aumento dos descontos dos trabalhadores” e que “[e]ste efeito negativo no mercado de trabalho não é compensado por qualquer efeito positivo da redução dos descontos das empresas”. Opiniões completamente antagónicas, portanto. Vamos ver qual será a taxa de desemprego no próximo ano.

Por outro lado, enquanto o Governo defende as vantagens desta medida para a economia, os vários parceiros sociais – desde confederações empresariais a sindicatos – criticam-na. A CAP pondera mesmo transferir eventual ganho na TSU para os trabalhadores, compensando-os de alguma forma da perda que lhes está destinada. A resposta dada pelo Governo às reservas manifestadas pelos empresários é a de quem se acha dono da verdade absoluta, e de quem acredita que os outros não sabem o que dizem.

Pois, mas os outros são os que lidam diariamente com a economia – empresários – e os que a estudam – investigadores. Perceberão um pouco do assunto. Não existe apenas um divórcio entre o Governo e a população (como se viu nas manifestações de 15 de Setembro), ou entre o PSD e o CDS/PP; existe um divórcio entre o Governo e a realidade. E quando assim é, não é de admirar que exista um divórcio da população com o sistema político.

 
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Publicado por em 20 de Setembro de 2012 em economia, governação, política

 

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Os mesmos de sempre

Ferraz da Costa quer redução da TSU em 20 pontos

Esta foi uma das primeiras notícias que li quando acordei hoje de manhã e devo confessar que fiquei sem saber se deveria rir ou chorar.

Este senhor propõe uma redução de 20% na TSU e que essa descida seja compensada com um aumento fortíssimo do IVA. Segundo ele, os portugueses consomem muito e deve haver uma maior tributação do consumo, para o moderar! Há, de facto, quem viva acima das suas possibilidades; mas não é um aumento do IVA que vai contribuir para a diminuição do endividamento das famílias. Pelo contrário, contribuirá para uma maior pobreza das famílias que, com os mesmos ordenados (ou até em situação de desemprego) terão de comprar os produtos mais caros.

Entretanto, dei-me conta que este é o mesmo senhor que em 2008 defendia o corte dos salários como forma de a economia ganhar competitividade e que lidera uma organização que em Abril deste ano sugeria a liberalização dos despedimentos [1].

Há pouco encontrei uma versão mais completa da entrevista de ontem, no jornal i, pela qual estão espalhadas mais algumas ideias estapafúrdias. Numa das respostas, Ferraz da Costa, afirma que:

(…) as pessoas acham mau porque afecta o consumo. Há quem fale sobre isso porque não percebe muito do assunto, como Jerónimo de Sousa. Há outros que falam, do Bloco de Esquerda a uma parte do PS, como se fosse possível a um país, de uma forma durável, financiar o seu consumo através do crédito. Precisamos de cair na real.

Ao ler isto, a primeira reacção que tenho é rir-me. Mas desde quando é que a relação entre consumo e crédito é assim tão directa?! Em 2009, o endividamento per capita em Portugal era de 12.962€ (habitação + consumo), em que 10.319€ correspondiam a crédito à habitação (ECRI, 2010). Grande parte do crédito está no sector da habitação, pelo que não serão medidas de restrição ao consumo a reduzir o endividamento das famílias. Pergunto eu: não poderá até contribuir para o agravar?

A minha segunda reacção foi lembrar-me do que ainda ontem li no livro «Portugal: Ensaio contra a autoflagelação» de Boaventura de Sousa Santos:

A um cidadão comum é difícil imaginar que facilitar o despedimento hoje seja a única forma de criar emprego amanhã. No entanto, é essa a «verdade» que o pensamento neoliberal impõe como evidente. Como é próprio desta última versão do capitalismo global, dominado pelos tempos instantâneos do capital financeiro, a lógica do curto prazo torna-se mais destrutiva do que nunca e as crises que vai produzir, apesar de muito previsíveis, só podem ser discutidas como «dissidência económica» facilmente descredibilizada. De nada vale mostrar que não existe sequer nenhuma relação clara entre a fraca regulação laboral e o crescimento económico. A economia convencional, que soube imunizar-se contra a democracia e a justiça social, imuniza-se agora contra o bom senso.

Este excerto, de que me lembrei muito por culpa da descredibilização que Ferraz da Costa tenta fazer das vozes que defendem ideias opostas às suas, acaba por se adequar bem à análise que faço desta entrevista e das outras medidas que Ferraz da Costa – a título individual, ou através da organização a que preside – tem defendido. A agenda ideológica que o move (e, quiçá, mais influenciada por interesses do que por ideologias), leva-o a propor medidas sem uma sustentação válida, defendendo-as com a descredibilização daqueles que a elas se opõem – é  fácil dizer que não vale a pena escutar as outras vozes, acusando-as de pregarem utopias.

Como defendi há alguns dias, cada vez mais considero essencial que se comecem a escutar o que outros economistas têm para dizer, em vez de continuarmos a escutar sempre os mesmos e que têm, também eles, responsabilidades por estarmos onde estamos e por não termos chegado onde pretendíamos.


[1] –  A título de curiosidade, é interessante olhar para a composição deste Fórum para a Competitividade, nomeadamente, para o seu Conselho Directivo, pois dá  perceber um pouco melhor as motivações políticas, ideológicas e pessoais por trás deste tipo de sugestões.

 
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Publicado por em 14 de Junho de 2011 em economia, governação

 

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