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A criatividade e a importância da sua promoção no ensino

26 Maio

“Classes will dull your mind, destroy the potential for authentic creativity.”

A afirmação é atribuída a John Nash (representado por Russell Crowe) no filme “A Beautiful Mind”. Tal afirmação é, quanto a mim, acertada e reflecte bem o que é o sistema de educação tradicional. Na minha opinião, o ensino não só não promove a criatividade, como tolhe a capacidade de pensarmos por nós próprios.

Parece-me claro que as escolas e os programas educativos não estão preparados para promover a capacidade de pensarmos pela nossa cabeça, de inovar, ser criativo e conceber novas ideias. Somos ensinados a tomar o conhecimento como um dado adquirido. Pensamentos como “é assim, porque o professor disse que era assim” ou “está no manual, portanto porque hei-de duvidar?” são comuns entre os alunos – era desta forma que eu também pensava quando andava no liceu – e raramente tentam perceber porque é que as coisas funcionam da forma como lhes é ensinado.

É importante sabermos pensar “outside the box“, não nos cingirmos ao pensamento convencional, mas sim conseguirmos ter novas perspectivas sobre os problemas que nos são colocados. É este o significado genérico que dou ao termo criatividade, neste contexto. E esta é uma das competências mais importantes hoje em dia. O mundo está em constante mudança e esta capacidade, de repensar e de inovar, é o motor que permite esta transformação global a alta velocidade. É a faísca que origina os grandes avanços, é factor diferenciador de pessoas, empresas, associações e países e pode ser um meio para fugir a uma crise ou para criar uma nova fonte de riqueza. As transformações na sociedade provêm da capacidade de ter ideias e de inovar, da criatividade de alguns, e é importante potenciar esta competência desde cedo. Se o mundo se altera constantemente e não fazemos ideia de como vai ser daqui 5, 10, 20, 50 anos, como é que podemos conceber a ideia de preparar uma criança para o seu futuro, educando-a apenas através da transmissão de conhecimento já existente, de forma padronizada, sem que a ensinemos a buscar o porquê das coisas e a tentar pensar de modo diferente do que está estabelecido? A educação que é dada às crianças e jovens tem de lhes ensinar como reagir a novos estímulos, a adaptar-se a novas realidades e a criar novas oportunidades. Para ser mais correcto, o sistema educacional deve desafiá-las a descobrir, por si próprias, como fazer isso.

Para além disso, esta padronização reinante limita as capacidades das crianças e, consequentemente, o seu sucesso futuro. Nem toda a gente aprende da mesma maneira e a inteligência não se restringe à capacidade de decorar informação ou de se conseguir aplicar no estudo. Há vários exemplos de pessoas que provaram ser extremamente inteligentes, apesar de, quando frequentavam a escola, não terem boas notas. Não por não serem aplicados enquanto jovens, mas sim porque a forma como foram ensinados não se coadunava com as suas características intelectuais. Actualmente, existe uma polémica, resultante da constatação feita por investigadores do fenómeno do ensino, de que “as mudanças introduzidas nas últimas décadas no sistema de ensino e de avaliação dos alunos estão a contribuir activamente para afastar da escola um número cada vez maior de rapazes(Público, 2010-01-27). Esta é uma conclusão a que se tem chegado em vários países e os estudos feitos demonstram que isto acontece “não por os rapazes se terem tornado, de repente, mais estúpidos, mas em grande medida (…) por eles estarem a ser ensinados e avaliados num sistema que valoriza as características próprias das raparigas e penaliza as dos rapazes(Público, 2010-01-27). Se tal é visível a este nível de grandeza, dividindo os alunos apenas pelo seu género, parece óbvio que, a um nível micro, uma variação numa característica, de uma criança para outra, poderá implicar que a forma como são ensinados e avaliados privilegie uma em relação à outra.

Parece ser imperativo que se proceda a uma reformulação do sistema de ensino, de maneira a que a criatividade seja fomentada e a que a individualidade intelectual seja respeitada. Os próprios professores parecem concordar com esta visão de que a criatividade é uma competência fundamental a ser desenvolvida nas escolas. Um estudo publicado no final de 2009, assente numa sondagem feita a cerca de 10.000 professores europeus, revela que 94% dos inquiridos consideram que a criatividade e a inovação devem ser desenvolvidas na escola (Creativity in Schools in Europe: A Survey of Teachers, 2009-12). Mas o estudo vai mais longe, revelando que 70% dos professores europeus acreditam que a criatividade pode ser ensinada e a quase totalidade dos inquiridos concorda que a criatividade pode ser aplicada a todas as áreas do conhecimento e não apenas ao domínio das artes, como parece ser crença do sistema de ensino actual.

não por os rapazes se terem tornado, de repente, mais estúpidos, mas em grande medida, avisam os investigadores, por eles estarem a ser ensinados e avaliados num sistema que valoriza as características próprias das raparigas e penaliza as dos rapazes.
 
3 Comentários

Publicado por em 26 de Maio de 2010 em educação

 

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3 responses to “A criatividade e a importância da sua promoção no ensino

  1. carlos saial

    2 de Junho de 2010 at 16:59

    Discute-se a criatividade qdo a maior parte nem a tabuada sabe!!! Alem disso ja temos um pais cheio de “criativos”, na medida que a criatividade e quase sempre uma desculpa para nao fazer nada:”Este trabalho nao me desenvolve. Preciso de algo mais criativo”. Qtas vezes se ouve! Primeiro marrar e aprender a tabuada. A criatividade e a sua procura com as ferramentas bem (a)marradas, vira naturalmente

     
    • kakoddo

      3 de Junho de 2010 at 22:26

      Não concordo, porque me parece muito mais importante ensinar a procurar o porquê das coisas e a pensar de maneira diferente do que obrigar a decorar informação. Em vez de uma criança saber quanto é 6*7 porque foi obrigada a decorar o valor na tabuada, não é melhor ensiná-la a chegar a esse valor, para que ela possa depois generalizar e saber adaptar-se a outros problemas? A mim parece-me evidente que sim. E estamos a falar de problemas a um nível básico.

       
  2. Tim

    2 de Agosto de 2010 at 15:20

    Esta é uma triste realidade.

     

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